26 Outubro 2022
O líder da Conferência Episcopal da União Europeia – COMECE, cardeal Jean-Claude Hollerich, conversou com La Croix International à margem da conferência geral da Federação da Conferência Episcopal Asiática (FABC), de 12 a 30 de outubro, realizada em Bangkok, à qual ele participou como delegado fraterno.
“Confiem nos bispos e estejam em diálogo com ele. E o diálogo deve ser feito do coração”, disse Hollerich – o jesuíta de 64 anos que chefia a Arquidiocese de Luxemburgo e é presidente da COMECE.
A entrevista é publicada por La Croix International, 25-10-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O Papa Francisco anunciou que a fase romana do Sínodo sobre a Sinodalidade será prolongada por dois anos. Como relator-geral deste sínodo, como você entende essa decisão?
Estou muito feliz com a decisão do Papa porque significa que temos tempo. Não precisamos nos apressar porque você só pode fazer um discernimento quando tem tempo. E acho também que a escuta é sempre feita a tempo.
Ouvir não é apenas uma coisa que você faz de uma vez por todas, mas é ouvir repetidamente e também reler. Os bispos podem reler o que suas Igrejas disseram, o que diz agora o documento para a assembleia e então temos tempo para discernir. Não temos pressa. E por isso me sinto muito grato por essa decisão do papa.
Muitas pessoas que participaram do processo sinodal estão ansiosas porque, enquanto forem ouvidas, nada acontecerá. O que você diria a eles?
Eu também ouvi isso. Digamos que a ansiedade já estava presente durante o processo sinodal diocesano para muitas pessoas. Muitas pessoas estavam relutantes em falar porque foram convidadas e nunca saiu nada disso.
Eu sinto a responsabilidade de que alguns resultados precisam sair deste sínodo. Então, pelo menos na minha diocese, vou assumir. Eu já tenho agora. Pedi à equipe sinodal que me apresentasse algumas propostas sobre o que podemos fazer em Luxemburgo, e o faremos.
O que aprendi pessoalmente é uma espécie de conversão sinodal, que não posso ser bispo sem minha Igreja. Faço parte desta Igreja e que a Igreja me pertence como eu pertenço à Igreja. Então, não posso deixar de escutar a Igreja e quero assumir a responsabilidade de colocar as coisas em prática.
Quais são seus comentários sobre o caminho sinodal da Alemanha?
Essa é uma pergunta difícil. Eu acho que você tem que entender a situação alemã sobre a crise de abusos e também o fato de que cada diocese produz seu próprio relatório com metodologias diferentes. Como resultado, está sempre na imprensa e a Igreja tem que reagir. Acho que os bispos quiseram reagir de modo sinodal – posso entender isso. Mas me sinto muito mal com a divisão dos bispos.
Às vezes na imprensa você vê uma condenação geral do Caminho Sinodal alemão. Eu não posso fazer isso. Vocês também devem confiar nos bispos e dialogar com eles. E o diálogo deve ser feito de coração para coração, não através da mídia.
Sempre temos que manter a unidade, a comunhão porque há uma crise muito maior. Temos que falar sobre como a fé pode ser vivida normalmente na vida cotidiana, na sociedade secularizada, como as da Europa. Essa é uma pergunta que temos que fazer juntos.
Eu questiono se o Caminho Sinodal alemão chegou ao ponto dessa discussão. O papa falou sobre missão, e sem missão não somos a Igreja.
Você está aqui em Bangkok para a cúpula da FABC. O que os católicos asiáticos podem oferecer à Igreja Universal?
Podemos aprender com a Igreja da Ásia porque a Igreja da Ásia como minoria não corta todos os laços com a sociedade para dizer ‘temos que criar nossa própria sociedade cristã’. Eles vivem uma clara identidade cristã no diálogo e, especialmente hoje, quando as pessoas falam de harmonia, podemos aprender com isso. Devemos viver uma identidade cristã clara, também na Europa, mas em diálogo com a sociedade secular que nos rodeia.
Para nós, na Europa, é muito bonito ver uma Igreja como minoria porque, de fato, estamos na mesma situação. Nós apenas não reconhecemos isso. Antigamente era diferente. Mas a Igreja na Europa também é minoria em um ambiente secularizado.
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“Alguns resultados precisam sair deste sínodo”. Entrevista com o cardeal Hollerich - Instituto Humanitas Unisinos - IHU